Ode aos 30
- Victor Hugo Felix
- 21 de mar. de 2022
- 3 min de leitura
Atualizado: 20 de jan. de 2023
Porque eu estava certo em ter medo dos 20

Na adolescência, eu não gostava de imaginar como seria minha vida aos 20 anos. Desejava muito poder pular essa fase e ir direto para os 35. Imaginava que, nessa idade, eu estaria com a vida estabilizada, trabalhando com algo que eu gostasse, sendo livre e independente. Por mais vago que fosse o Victor Hugo de 35 anos da minha imaginação, ao menos era alguma coisa. Porque, quanto aos meus 20, não imaginava nada. Vácuo absoluto, completo vazio.
O medo que eu tinha dos 20 era justificável. "É a fase mais divertida", alguns poderiam dizer, considerando que é o período em que estamos mais sujeitos às loucuras da juventude. Bares, amigos, sexo, namoro, diversão e histórias para contar - ou para manter em segredo. Mas aos 15 anos eu nem considerava a possibilidade de viver tais coisas, como se eu não tivesse sequer direito a elas.
Os 20 são a fase da descoberta, em que se sai do casulo e se torna uma pessoa integrada ao mundo à nossa volta. Nessa fase, tudo que bate na gente dói. As expectativas das pessoas sobre nós, nossas expectativas sobre os outros, as relações humanas, os sonhos que não atam e nem desatam. Nos vemos numa rede de conexões, o que é em si um potencial gerador de conflitos e traumas. Eu tinha muito medo de tudo.
Quando cheguei aos 20 anos, já estava com quase 30. Foi muito rápido, e todos os meus medos se confirmaram. A parte boa, da loucura da juventude, de certa forma não vivi mesmo, ou vivi muito pouco, o que se desdobrou numa sequência de eventos muito amargos. Já o medo das relações, das dececpções, das frustrações, dos ciclos que não se quebram, de tudo que eu sabia que me levaria às lágrimas, tudo se confirmou.
Curiosamente, viver os meus 20 anos me trouxe o medo dos 30. Não pelo que eu poderia viver, mas pelo que eu deixaria de viver. Afinal, os 30 carrega essa equivocada ideia de envelhecimento. Ao se chegar nessa idade, não se pode mais se dar o luxo das loucuras da juventude, das descobertas, dos equívocos perdoáveis. Se não tiver tudo resolvido até aí, está condenado a uma vida infértil, reta e monótona.
Pois bem. Na próxima semana, em 28 de janeiro, eu chego aos 31. E digo, com alívio e felicidade, que viver esse último ano foi uma virada interessante. Já haviam me alertado que, ao contrário do que eu imaginava, a vida realmente começa aos 30, porque estamos mais conscientes de quem somos e buscamos com mais sabedoria aquilo e aqueles que nos fazem felizes. Isso é verdade, eu posso dizer. Com 30 anos a vida é outra.
Não me conformo mais com o que não me completa. Se não me faz bem, dispenso educadamente. Sei do meu valor, sei do que sou capaz, sei do que tenho a oferecer ao mundo, sei que deveria estar vivendo coisas tão boas quanto. Estou mais criterioso, mais exigente, mais seletivo e menos paciente. Nunca estive tão seguro, tão forte, tão determinado, tão corajoso - nem tão bonito.
Parece que a vida só está começando, e está mesmo.
Ainda não atingi o nível de liberdade e independência que eu imaginava que teria aos 35, mas tenho tempo para conquistá-las. E se não conseguir até os 35, continuarei tentando. Até os 40, 50, 60. Até a morte. O que vale hoje é a busca, a caminhada, o movimento. Eu só paro quando eu morrer.
Passei anos da minha vida numa relação conturbada com o tempo. Cada ano que se passava parecia ser um monstro que cresceria e me arrastaria para a desolação. Mas tudo é só uma questão de perspectiva. O tempo só é inimigo de quem o vê como tal. Não é mais o meu caso.
Feliz 2023.
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